"Mulher, mãe de três filhos, avó de um brasiliense de quatro anos, socióloga, feminista e evangélica progressista", dessa forma Raissa Rossiter se define. Porém, quem a conhece, também lembra de várias outras qualidades como, estudante dedicada, excelente gestora e pioneira na luta pelos direitos das mulheres no país.
Brasiliense de coração, decidiu colocar sua voz e seu trabalho a serviço da população da cidade. Agora, busca realizar esta tarefa sendo pré-candidata do Partido Socialista Brasileiro (PSB) nas eleições de 2022 e, a depender da seriedade, do profissionalismo e da entrega de Raissa a esta missão, a batalha será árdua, mas vitoriosa.
O PSB-DF promove, ao longo do mês de agosto, uma série de entrevistas com futuros pré-candidatos e pré-candidatas das eleições de 2022 para divulgar o trabalho e a luta deste grupo comprometido com a cidade e com a população do DF.
- Conte um pouco sobre sua trajetória. Quais momentos de sua vida foram mais determinantes para que ingressasse em um partido político e em que momento decidiu ser candidata (o)?
Raissa: Mulher, mãe de três filhos, avó de um Brasiliense de quatro anos, socióloga, feminista e evangélica progressista. Adotei Brasília como minha cidade há 25 anos, quando ao lado de meu companheiro de vida, passei a residir na capital. Venho de uma família nordestina, pais e avós, com grande orgulho: gente simples, que lutou com muito trabalho, a vida toda, e que nutriu em meu caráter valores essenciais como a perseverança, o respeito ao próximo, a solidariedade, a integridade e o amor ao País.
Sou uma obstinada. Sempre batalhei com força e perseverança, desde cedo, pelo que acredito. Compreendi, cedo na vida, que precisava me afirmar para ocupar os lugares que legitimamente aspirasse alcançar. Como mãe solo durante quase 10 anos, mulher e trabalhadora, trilhei minha trajetória enfrentando a múltipla jornada comum à maioria das cidadãs do nosso País. Foi assim que fui construindo meus espaços de liderança em uma carreira de mais de 30 anos como gestora nacional no Terceiro Setor, voltada ao fomento ao empreendedorismo, como estratégia de desenvolvimento local, inclusão social e econômica, no SEBRAE; assim como atuando no campo da educação profissional, no SESI/SENAI; da gestão das políticas públicas, como Secretária-Adjunta de Políticas para Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal. Em paralelo, o desejo de compartilhar conhecimento me levou à atividade docente como professora universitária em instituições como o Uniceub e a Universidade de Brasília – UnB. Coroando essa trajetória, fui a primeira mulher dirigente da ONG global humanitária World Vision no Brasil. Sinto-me muito realizada por ter podido, em toda a minha caminhada, ter a oportunidade de atuar em causas que me mobilizaram não só como profissional, mas, principalmente, como cidadã. É gratificante atuar naquilo que você acredita.
A política está no meu DNA. Tenho a política como um chamado, uma vocação, um instrumento para servir ao interesse público. Acredito fortemente na política como instrumento coletivo para a construção de um mundo melhor. Desde adolescente, e depois nos tempos da universidade, no curso de Sociologia, em Recife, participei de movimentos estudantis e fui às ruas pelas “Diretas Já” para a redemocratização no País. Vivi os reflexos da ditadura bem perto de mim, na sala de aula da universidade, ao ter um colega de turma, o Cajá, sequestrado e torturado. Felizmente, sobreviveu e foi libertado. Participei em vários movimentos de luta democrática, no Recife das décadas de 80 e 90, ao lado de figuras políticas como Eduardo Campos, Humberto Costa e Maria Áurea Santa Cruz, dentre outras.
Considero que tive fortes influências de pessoas que marcaram a minha vida para minha identificação tão forte com a política.
Descobri um “santinho” em que meu avô materno, José, figura bem popular no interior do Rio Grande do Norte, motorista de táxi, aparece como candidato a vereador, quando eu ainda nem era nascida! Minha mãe, pela liderança que teve em projetos sociais de grande impacto em regiões de grande vulnerabilidade social e econômica no Recife, diversas vezes foi convidada a se candidatar a um cargo eletivo, algo que nunca se concretizou por decisão dela. Eu, adolescente, acompanhava e a apoiava no seu trabalho social. Outra figura de muita influência política em minha vida foi o primo, por parte de pai, Dom Robinson Cavalcanti, já falecido, Bispo da Igreja Anglicana, advogado, autor de livros e meu professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Dom Robinson me mostrou, com seu exemplo, que a fé e o engajamento político podem e devem caminhar juntos. Foi candidato a Deputado Estadual, em 1982, pela oposição ao Regime Militar, e participou das campanhas pela Lei da Anistia e pelas Diretas Já. Foi um dos idealizadores e membro da primeira diretoria nacional do MEP - Movimento Evangélico Progressista.
Com a carreira profissional consolidada, finalmente ingressei pela primeira vez em uma legenda em 2009, no Partido Verde do DF. Atraída por tantos pontos de convergência com a então Senadora Marina Silva, cheguei a ser pré-candidata pelo PV-DF ao Governo de Brasília. Lembro como se fosse hoje, na convenção do PV-DF, do meu discurso aos presentes em que afirmei que o resultado adverso não faria esmorecer meu compromisso em continuar firme na jornada política. E assim foi: ajudei na construção e na fundação da Rede Sustentabilidade, ao lado de Marina e outros (as) companheiros (as). Com a recusa do registro do novo partido junto ao TSE, acompanhei Marina e migrei para o PSB – Partido Socialista Brasileiro em 2013 onde exerço minha militância política até os tempos atuais. A decisão de ser candidata em 2018 foi uma consequência natural da minha caminhada, desde 2009, na política partidária em Brasília e surgiu em função do incentivo que recebi de apoiadores que acompanhavam minha jornada de longa data.
- Hoje você diria que suas principais pautas são?
Raissa: No topo das minhas prioridades sempre esteve o enfrentamento às violências contra as mulheres, contra as desigualdades sociais, de gênero e raça, enfim, na militância pelos direitos humanos. O Distrito Federal é a unidade federativa mais desigual do País e precisamos mudar essa triste realidade com políticas sociais efetivas. Para mim, esta é uma questão fundamental que merece toda a nossa atenção.
Mas há outras pautas que se somam, também importantes, com as quais venho associada e trabalhando desde muito jovem. A promoção da autonomia econômica local com fomento ao empreendedorismo e à inovação, à economia criativa e solidária é parte de uma carreira que construí de 27 anos no SEBRAE; a valorização do funcionalismo público, porque é por meio de servidores respeitados e qualificados que se presta um serviço público de qualidade; a inovação na política, com maior participação cidadã da sociedade, porque sem ela não construiremos soluções reais de transformação; a redução das violências; a ampliação e melhoria das condições de mobilidade da população.
A saúde é outra área para a qual, mesmo antes da pandemia, minha atenção esteve voltada. Enquanto atuei como Subsecretária de Políticas para Mulheres no Governo do Distrito Federal, tive a honra de ser eleita delegada em 2017 para a 1ª. Conferência Distrital de Saúde das Mulheres. Na conferência, fui eleita como uma das delegadas representantes do DF na 2ª. Conferência Nacional de Saúde das Mulheres no mesmo ano. Com entusiasmo, participei diretamente da construção de propostas de políticas públicas voltadas às mulheres por meio do aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde - SUS. Agora com os tempos difíceis de pandemia, a gente pode perceber quão importante é o SUS para a promoção da vida humana e da saúde de nossa população. Quero defendê-lo no DF por meio de políticas que otimizem a aplicação dos recursos na saúde e a elevação dos padrões de atendimento; para tornar a saúde pública mais acessível a quem mais precisa dela.
Finalmente, precisamos promover mais oportunidades de formação e trabalho para os jovens, que foram os mais prejudicados com a pandemia da covid-19, e a proteção e promoção da sustentabilidade ambiental.
- Como você tem se preparado para as eleições? Acha que as novas regras para eleitorais que passam a valer no próximo ano ajudam ou atrapalham os candidatos?
Raissa:Tenho me preparado intensificando o trabalho de ativismo social e político que já desenvolvo há muitos anos. Em função do longo período de distanciamento social que vivemos por conta da pandemia, tenho procurado fortalecer minha presença digital como instrumento para educar, defender e chamar atenção sobre as causas que defendo. As novas regras eleitorais poderão ter impacto, sim, sobre as candidaturas, como por exemplo a volta das coligações proporcionais. Felizmente, o distritão, tão nefasto para as candidaturas de segmentos sub representados como as mulheres e negros, dentre outros, foi rejeitado na Câmara Federal. Mas confesso que sigo firme dando continuidade ao meu trabalho, vivendo ”um dia de cada vez” porque o cenário final com as novas regras eleitorais ainda está sendo desenhado. Não vou me imobilizar diante de um cenário em formação. A dinâmica de mudanças é parte inerente ao jogo da política.
- Você participa de qual zonal?
Raissa:Participo há vários anos da Zonal 2 do PSB-DF que compreende as Regiões Administrativas do Varjão, Lago Norte, Planaltina e Itapoã. Resido há mais de 16 anos na região e tenho feito militância política envolvida nas questões mais críticas da população local. Em função do agravamento da fome e das vulnerabilidades sociais e econômicas durante a pandemia, criei com ajuda de companheiras/os da sociedade civil o Movimento “Olhe Ao Redor” que vem ajudando pessoas que enfrentam desemprego e fome nas RAs da Zonal 2, como o Varjão e o Itapoã, que estão entre as áreas de renda mais baixa do DF. A partir de março de 2021, tive a honra e a responsabilidade de passar a presidir a Executiva Provisória da Zonal 2. Precisamos ter mulheres nas instâncias de direção partidária. Este é um passo importante para a paridade de gênero na política.
- Em sua opinião quais principais desafios que a sua região enfrenta?
Raissa: O Distrito Federal é reconhecido pela sua iníqua desigualdade social e econômica. Cerca de 55% da nossa população é de baixa e média renda. A área que compreende as RAs do Varjão, Paranoá, Lago Norte e Itapoã está entre as de maior desigualdade do DF, conforme o Mapa das Desigualdades do Distrito Federal (2019) mostrou. Paranoá e Itapoã estão também entre as cidades mais negras e de maior baixa renda do DF. Os principais desafios da minha região refletem este quadro de desigualdades profundas: problemas de desemprego, falta de urbanização adequada, precariedade dos serviços públicos, em particular os de assistência social, trânsito e saúde colapsados. Para estreitar ainda mais o diálogo com a comunidade local, temos feito rodas de conversa para identificar esses problemas pontualmente e trabalharmos juntos, de forma coletiva, para a construção de propostas e soluções.
- O PSB tem atuado com destaque como grande opositor do governador Ibaneis, inclusive com ações judiciais contra o chefe do Executivo e o GDF. Por outro lado, o governador, se justifica afirmando que seu mandato foi interrompido pela pandemia e diz que "não deve nada". Em sua opinião, quais foram/são os principais erros de Ibaneis durante a gestão da pandemia?
Raissa: O governador Ibaneis deu início a uma sucessão de erros desde a campanha de 2018, ao buscar se eleger com base em falsas promessas de campanha, que sabia que não poderia cumprir, como por exemplo pagar a terceira parcela do reajuste aos servidores públicos ainda em 2019, fato que não ocorreu até este momento, ou doar dinheiro próprio para construir creches e escolas. Na gestão da pandemia, um dos erros mais graves foi a má gestão, com supostos esquemas de desvio de recursos, superfaturamento e corrupção, dos recursos públicos da saúde. Em plena pandemia, tivemos o Secretário de Saúde e sua equipe do primeiro escalão presos em 2020 em função da apuração dessas graves irregularidades. Uma vergonha. Quantas vidas poderiam ter sido poupadas se houvesse maior compromisso com a saúde da população?
- Além da Saúde, que outros problemas o partido identifica na gestão atual?
Raissa: A falta de transparência na gestão é algo que se revela uma prática característica na gestão Ibaneis. Inclusive, a elaboração e aprovação de plano de combate à corrupção no DF é outra promessa não cumprida desse governo distrital.
- Qual sua avaliação do governo Bolsonaro até o momento?
Raissa: O que dizer de um governo que possui a trágica segunda posição global de mortes na pandemia da covid-19 com mais de 570 mil vidas perdidas? Minha avaliação é que se trata de um governo desastroso do ponto de vista humanitário, social, econômico, cultural, ético, ambiental e político. Ao longo desse período, desde a posse do atual governo federal, vimos a nossa democracia ser confrontada por meio de apologias, declarações e ações de cunho autoritário que incitam a intolerância, o ódio, as fake news, o desrespeito à Constituição Federal e às instituições democráticas. Vimos também serem revelados supostos esquemas de corrupção na esfera federal, que vêm sendo investigados na CPI da pandemia, que comprometeram a agilização da chegada de mais vacinas para salvar vidas. Que sejam apurados e punidos. Sou de uma geração que viveu e lutou pelo fim da ditadura. Como assistir as ameaças constantes às instituições democráticas sem profunda indignação e apreensão por saber que o regime autoritário representou a falta de liberdade e a violência, a tortura e morte de tantos que se opuseram à ditadura militar? Fico também muito indignada pelo uso distorcido e manipulativo de posições religiosas por parte de setores fundamentalistas do governo federal. Os princípios cristãos, conforme Jesus de Nazaré nos ensinou com suas palavras e vida, em nada têm a ver com o fundamentalismo religioso e a falta de laicidade do Estado que estamos observando nos últimos tempos. Esta não é minha opinião isolada. Infelizmente, é a percepção da chamada comunidade internacional. Precisamos ressaltar que é pelo caminho democrático, com o respeito às liberdades, aos direitos humanos e à justiça social, tão bem expressos em nossa Constituição, que queremos construir um presente e um futuro melhores em nosso País.
- O DF elegeu Bolsonaro com 70% de votos em 2018. Acha que essa tendência de voto na direita se mantém em 2022? Como atingir, estando em um partido de esquerda, esse eleitorado mais "conservador"?
Raissa: Acredito que o cenário para 2022, com tudo que estamos vivendo até este momento, pode trazer mudanças de posicionamento, mesmo em setores mais conservadores do eleitorado. Há muita decepção com a forma como o governo federal vem conduzindo a crise sanitária e humanitária da covid-19. Pior, há o impacto humano, social e econômico. Precisamos demonstrar à sociedade, de forma simples, clara e baseada em evidências e fatos, que o socialismo democrático defende valores essenciais para a vida em sociedade como a justiça social, o respeito e defesa dos direitos humanos, a promoção do desenvolvimento econômico e social em bases humanistas e mais sustentáveis.
- Qual mensagem você deixaria para conscientizar as pessoas da importância do voto consciente e da participação política?
Raissa: Temos muitos instrumentos e caminhos para exercer nossa participação política. Se queremos transformar a realidade tão desigual e injusta em nosso País, precisamos participar da política! Só teremos orgulho da política quando as/os cidadãs/os comuns, como você eu, se perceberem como corresponsáveis pela sua elevação ética. O voto consciente vai muito além das eleições, ele se exerce no dia a dia, com controle social e cidadania.
Você pode acompanhar o trabalho desenvolvido pela socióloga e ativista Raissa Rossiter por meio de suas redes sociais e site:
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